O absurdo de Gênio Diabólico | Resenha


 


Existe um hábito muito bizarro meu que eu vou ter que revelar aqui: Eu adoro histórias absurdas. E principalmente se elas forem contadas em um documentário recheado de subtramas.
Sou viciada em mini docs no youtube, em canais sobre serial killers, sobre pessoas desaparecidas, essas coisas...

E foi em uma caçada sobre essas histórias que eu conheci Gênio Diabólico, que conta sobre Brian Wells, um assaltante de banco que explodiu no meio da rua, ao mesmo tempo que pedia socorro e dizia ser inocente.


Acho que não é cabível aviso de spoiler né? É uma história real.

O ano é 2003 e Brian Wells, um entregador de pizza, entra em um banco. Ele usa uma bengala, pega um pirulito no balcão e entrega um bilhete para o atendente.


No papel estava escrito que aquilo era um assalto e pedia para o caixa entregar 250 Mil Dólares. O caixa entrega o que havia com ele, (cerca de apenas 8 Mil Dólares) Wells sai do banco e vai para o estacionamento. E antes que ele pudesse pegar a avenida novamente, a polícia chega e o cerca.             



Acontece que quando um dos oficiais vai algemar Brian Wells, ele informa que está com uma bomba e que não tem controle dela. O policial se afasta, um de seus colegas se aproxima e rasga a camiseta de Wells revelando que ele tinha um dispositivo preso em seu pescoço.

Brian demonstra que está calmo, fala a todos que não tem controle da bomba e ainda informa que precisa de chaves para se livrar daquilo o mais rápido possível.

Os policiais o observam a distância, e durante todo o tempo Wells afirma que vai explodir e que é inocente. Brian também afirma que quem colocou a bomba nele foram alguns caras negros.

O tempo passa e a equipe anti bombas está atrasada. Brian escuta um bip. E ai ele muda sua postura. Começa a ficar cada vez mais assustado e pede socorro. 
Diz novamente que vai explodir a qualquer momento.




Infelizmente Brian Wells explode na frente dos policiais, dos civis e da mídia. Havia jornais locais cobrindo o caso. E eu não vou colocar o vídeo da explosão aqui, é extremamente pesado. Em Gênio Diabólico essas cenas não são censuradas.



Agora a polícia tinha vários problemas. O primeiro deles era identificar quem era Brian Wells, e depois investigar sobre o suposto envolvimento dele no assalto ao banco. O que mais chocou alguns dos investigadores foi que geralmente bombas em assaltos são falsas. E o líder do esquadrão anti-bombas ficou impressionado com o dispositivo que estava preso em Brian.

O documentário fala um pouco sobre como os vizinhos e amigos de Brian o viam. Ele é dito como um cara simpático, carinhoso com a mãe, responsável e inocente. Muitos descrevem o Brian Wells como um cara extremamente ingênuo.

Ao vasculhar a casa de Brian Wells, os investigadores encontraram uma lista de prostitutas que ele contratava. E ficaram muito interessados nisso. (Sinceramente ainda não entendi a linha de investigação ai, mas é 2003 né...)

O caso de Brian fica parado por alguns meses, até que a polícia local recebe uma ligação interessante de Bill Rothstein.


Bill Rothstein é uma incógnita. Sua história não é tão explorada no documentário quanto a história de Marjorie ou de Brian. Bill é um cara conhecido pelos seus amigos como uma pessoa muito boa, carinhosa e inteligente. 

Bill liga para a polícia alguns meses depois do caso do Brian Wells, e diz que precisa que eles (os policiais) chegam na rua dele o mais rápido possível, pois tem um corpo dentro de um congelador.
O corpo congelado é identificado como Jim Roden, ex de Marjorie Diehl Armstrong, outra peça desse quebra cabeças imenso e estranho.

O congelador está na casa de Bill. Ele alega que Marjorie queria que ele se livrasse do corpo e ele disse que estava tentando ganhar tempo para ter coragem de ligar para a polícia e a denunciar, afinal os dois foram casados e ele ainda nutria um amor por ela. Durante a averiguação na casa de Bill eles encontram uma carta de suicídio com uma informação no mínimo estranha:

"O caso de Jim Roden nada tem haver com o caso do Pizza Bomber"

E antes mesmo que a averiguação sobre esse bilhete fosse feita, Marjorie foi presa por causa do corpo congelado. Bill ainda ajuda os investigadores sobre como Marjorie o contou sobre ter matado Roden, e como ele escondeu o corpo no congelador. Ele ainda alegou que iria se desfazer do cadáver, porém não conseguiu e entrou em desespero tentando um suicídio.


Marjorie Diehl Armstrong é a única envolvida no caso que a produção do documentário teve acesso irrestrito. (Cartas, ligações, encontros...) Magie (apelido que ela ganhou pela produção) é uma mulher de um passado interessante.

Linda, inteligente, talentosa, esperta e herdeira. Marjorie tinha um futuro brilhante que foi interrompido por suas doenças mentais mal diagnosticadas. Ela foi negligenciada pelo pai (que se mostra extremamente incompreensível, que não leva muito a sério a doença da filha) e com o passar dos anos tudo só foi piorando. Seus parceiros não levavam a sério sua bipolaridade, que a consumia dia após dia.

Marjorie foi diagnosticada com mania, depressão e bipolaridade. Tomava remédios, tinha problemas com namorados (que morriam, todos) tinha problemas com o pai e tinha, é claro, problemas financeiros.



Bill e Marjorie foram casados por alguns anos, e o relacionamento acabou. Eles continuaram amigos após um tempo, e Magie encontrou outros namorados ao longo dos anos. Já Bill continuou sozinho até o fim de seus dias.

Marjorie uma vez foi indiciada nos anos 80' por ter matado um namorado. Ela foi a julgamento e disse que o matou por legítima defesa, pois ele havia tentado a estuprar. Ela foi liberada da condenação, e tentou justificar a morte de Jim Roden pelo mesmo motivo. Ocorre que outros namorados de Magie também morreram de causas suspeitas. Ela só foi sentenciada pela morte de Roden.

Kenneth Barnes foi um dos interrogados sobre o caso de Jim Roden. Ele era amigo de Jim e Marjorie - eles eram companheiros de pesca - e ele fez algumas revelações sobre o comportamento de Magie.


Barnes diz á polícia que Marjorie e Jim brigavam muito quando eles saíam juntos. Que Magie já ameaçou matar o namorado numa dessas brigas. E que ela era muito gananciosa. Ele chega a comentar que ela queria o pai morto. Harold Diehl era um senhor com muito dinheiro, e que tirara a filha do seu testamento. Coisa que Marjorie ainda não sabia.


Anos depois do ocorrido com o Corpo Congelado e o Pizza Bomber, Kenneth Barnes é preso por tráfico e também é descoberto que ele tinha ligações com Bill, Marjorie e veja só: Brian Wells.

E agora fica a pergunta, o que o caso do corpo congelado tem haver com o caso do Brian que foi explodido após roubar um banco?



Até onde se sabe, Marjorie queria seu pai morto (para ficar com a herança) e pediu a seu amigo Kenneth Barnes para cometer o assassinato. Kenneth diz a Magie que queria uns 250 Mil Dólares. (o mesmo valor que aparece na carta que estava com Brian.)

Ao mesmo tempo que Bill Rothstein também precisava de dinheiro, ele vivia pedindo a Marjorie, e que também era muito engenhoso. Acredita-se que ele foi quem fez a bomba e a arma em formato de bengala que Brian Wells usava no dia do assalto.

Os envolvidos pedem uma pizza onde Brian trabalhava, e ao chegar no local o entregador fica esperando receber o dinheiro. Um deles pega a bomba em um carro enquanto outro esmurra Brian. Marjorie coloca o dispositivo no pescoço de Wells e o instrui a falar que foram caras negros que o atacaram, caso a polícia pergunte. 

Bill entrega os bilhetes, e Marjorie e Barnes colocam uma camisa para esconder a bomba. Bill diz a Brian que ele pode usar a bengala para se proteger (ela era uma arma disfarçada, e o FBI afirma que ela funciona perfeitamente.)

Nisso Brian sai dirigindo desesperado e os outros vão para suas casas esperar o resultado do assalto.

Foi Kenneth Barnes quem confirmou essa versão da história para um dos produtores do documentário, e Marjorie fica completamente irritada com essa parte.

Porém nada disso foi confirmado.

  • Kenneth Barnes foi preso por vender cocaína. (E alguns anos depois foi indiciado pelo assalto.)
  • Marjorie pelo assassinato do namorado. (E morreu falando que era inocente)
  • E Bill Rothstein foi liberado pela polícia por colaborar com as investigações, e morreu um ano depois de câncer.
A polícia não conseguiu as confissões dos envolvidos, então essas especulações vieram de algumas investigações feitas pela produção durante a gravação do documentário, e por alguns agentes do FBI.

Brian Wells, além de ter sido explodido ao vivo pro país inteiro, também foi decapitado para preservar a bomba. Tudo isso sem sequer consultar a família. (No documentário tem a leitura da carta enviada pela irmã de Brian ao FBI.)

E no final do último episódio do documentário é que uma pessoa fica extremamente ligada ao caso e que confessa para o produtor sobre o assalto: Jessica Hoopsick.
     


Jessica foi procurada pelo FBI diversas vezes, para depor no caso. Acontece que ela era uma das prostitutas aliciadas por Kenneth Barnes, e que conhecia Brian Wells.

Acreditava-se que ela poderia ter algum envolvimento com o caso, ou que soubesse de alguma informação crucial para as investigações.

Porém ela não foi encontrada e só foi investigada anos depois, quando foi presa por posse de cocaína. (Lembra do motivo pelo qual Barnes foi preso? Então.)


Acontece que a produção conseguiu ter contato com Jessica um tempo depois que ela foi liberada para responder em liberdade. Aqui, no documentário, temos uma confissão com muita emoção e pesar da parte de Jessica. Ela relata que conhecia sim Brian Wells, e que o que eles tinham era algo especial. Ela diz que no dia em que os envolvidos se encontraram numa reunião para realizar o roubo ao banco, eles estavam procurando uma vítima para colocar o colar de bomba.

Foi aí que Jessica falou sobre Brian. Disse que ele era o cara mais "banana" que ela já conheceu e que ele seria perfeito. Acontece que Jessica não sabia que a bomba era real. (Lembre-se do que comentei lá no início do texto, não é comum que bombas sejam reais nesses casos.)

Ela conta que Brian é inocente, que ele não sabia de nada do que aconteceu e que entrou nessa caça ao tesouro porque era muito manipulável e ingênuo. 

A investigação termina aí. Marjorie foi indiciada como a cabeça do assalto e da fabricação da bomba. Barnes como o intermediário pelo Brian Wells, e Bill Rothstein foi solto. O cara que colocou um corpo de um cara no freezer. 


Você pode até pensar que meu texto é confuso, que eu não pesquisei direito ou que o roteiro desse documentário é péssimo. Não é caro leitor, a verdade é essa, esse caso é o mais bizarro que eu já ouvi falar. Parece um roteiro de um filme hollywoodiano estranho, mas é só a realidade que aconteceu na Pensilvânia, em 2003, após um carinha roubar um banco e levar uma miséria de dinheiro.

A polícia cometeu um monte de erros, as autoridades ficaram sem comunicação por anos - atrapalhando o trabalho das investigações - e o FBI perdeu muitas pistas. Sem contar que apenas Marjorie foi indiciada pelo roubo. 

Foram extremamente preconceituosos com as limitações mentais de Marjorie. A produção teve bastante acesso a ela, e é muito interessante ver ela falar. (Apesar de ser uma assassina, lembre-se de seus namorados.)

O caso do Brian é muito triste, e eu não acredito em sua total inocência, mas morrer explodido da forma como ele foi é terrível de se ver. (A Netflix não censurou essa cena, então se for assistir saiba disso.) Sua família foi muito atacada e perseguida depois do assalto, e todos ficaram extremamente ofendidos com a acusação dos juízes.

Marjorie morreu de câncer recentemente em 2017, e Kenneth Barnes morreu ano passado. Com o falecimento dos únicos presos pelo caso, ele voltou a tona. O documentário, lançado pela Netflix e dirigido pela Barbara Schroeder, foi lançado em 2018.

Ele é bem interessante e os episódios sempre acabam com um clímax que faz o espectador ir correndo ver o próximo até acabar a série.

O que fica aqui é uma história absurda, com muitas subtramas e envolvidos, que não explica diretamente algumas questões levantadas no próprio documentário, e que deixa a gente extremamente angustiado com o fim de Brian Wells.

Se for assistir, vê uns vídeos de gatinhos depois, vai te deixar perturbado.



Links úteis para compreensão do texto:



Comentários

  1. Muito bom!!! Não o crime, mas o post!! Eu mesmo tive algumas dúvidas e fiquei confuso enquanto assistia o documentário, imagino como deve ter sido complicado escrever essa resenha... rsrsrs Parabéns pelo post, e sucesso!!

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    Respostas
    1. Hahaha, o documentário também é bom (apesar de alguns erros) mas o caso em si é triste mesmo.
      Foi um bocado difícil conceber essa escrita também, é um roubo a banco extremamente confuso.
      Obrigada pela vista!

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