Os homens invisíveis do século XXI | Resenha
Reprodução Google Imagens |
Finalmente 2020 chegou e com ele filmes que eu estava ansiosa pra assistir.
Voltei pro Blog, voltei pra vida de resenhar séries, filmes, documentários... As coisas vão ficar mais ativas por aqui, prometo.
Ontem foi dia Internacional Da Mulher (Ou Revolução Russa, pra ficar mais bonito, nom?) e esse filme traz uma abordagem sensacional pra gente debater nesse mês da luta dos direitos das mulheres.
Existe uma versão sem spoiler no Cinema Atemporal.
Nível de Spoilers: ALTO.
Quero que saibam que ler resenhas com spoilers ou assistir a resenhas no youtube sobre o filme vai te tirar boa parte da experiência. Vai por mim, quanto menos você souber sobre esse filme melhor.
Tudo certo?
Bora então.
O ex abusivo de Cecília comete suicídio dias após ela fugir de casa. Ao receber a notícia de que ficará com a fortuna de Adrian, ela começa a planejar uma nova vida. Porém tudo começa a mudar quando Cecília desconfia de que Adrian forjou a própria morte e de que está a caçando. Agora ela precisa provar que ele está vivo, porém invisível.Data de lançamento: 27 de fevereiro de 2020 (Brasil)Direção: Leigh WhannellAdaptação de: O Homem InvisívelOrçamento: 9 milhões de DólaresProdutoras: Blumhouse Productions, Nervous Tick, Goalpost Pictures
Eu modifiquei até a resenha oficial que é pra você não ter contato nenhum com spoiler, veja só.
Daqui pra frente eu vou dissecar o filme, então leia por sua conta e risco. (Tudo o que estiver em parênteses são meus comentários a respeito dos signos e das cenas, okay?)
Quando fiquei sabendo sobre essa versão de O Homem Invisível, logo associei ao filme de 2001: "The Hollow Man", que aqui nada tem haver com o livro do H. G. Wells - pena, eu realmente acreditava fazer parte do mesmo universo - e que é um ótimo filme. Quando criança eu morria de medo. (Eu tinha uns 6 anos na época.)
Esse filme de 2020 bebe da fonte do incrível "The Invisible Man" de 1933, que teve continuações. (Mas eu só conheço o primeiro, que realmente é bom, nossa.) E também do livro "O Homem Invisível" escrito por Herbert George Wells em 1897, que é uma leitura que com toda certeza farei este ano.
Porém, na versão atual nós não temos o Homem como personagem principal. (O que me surpreendeu no decorrer da trama.) Desta vez, é Cecília (a ex namorada de Adrian) quem nos insere na história.
O filme nos mostra logo de início, que Cecília sofre de abusos vindos de seu companheiro. E numa tentativa desesperadora de fugir da prisão em que Adrian a colocou (destaque pra arquitetura sufocante da casa) a protagonista executa um plano de fuga com sua irmã. Adrian, desesperado, tenta arrancar Cecília do carro, quebrando o vidro e gritando com ela.
E é aí que o filme começa a mostrar qual é teu maior signo: violência doméstica.
Cecília começa a morar com seu amigo James e com sua filha Sydney. Aqui o roteiro já nos insere em um núcleo familiar consistente e aconchegante, coisa que Cecília não tinha.
A protagonista, a partir daqui, começa a iniciar sua nova vida, longe de Adrian.
E não tem como não comparar com a vida real. O filme aborda esse tema de forma tão sincera, que me peguei muito mal em cenas cotidianas da vida de mulheres como Cecília. Mulheres estas que estão na minha família, que tentam por milhares de vezes começar uma nova vida depois de fugir de seus lares violentos.
Seguir em frente, para Cecília, é uma batalha diária. Coisas como pegar um jornal, sair de casa ou procurar um emprego, se tornam assustadoras. E quando a protagonista finalmente parece tomar um rumo, Adrian retorna. Tom, cunhado de Cecília, a informa que de Adrian cometeu suicídio de que deixou sua fortuna para ela.
No fim deste primeiro ato, nós descobrimos que Adrian está invisível.
(Aqui a equipe de efeitos especiais e práticos tá de PARABÉNS. Eu sinceramente me caguei o filme inteirinho com as cenas da Cecília descobrindo que Adrian a persegue e que está invisível.)
O roteiro foi brilhante em seguir a perspectiva da Cecília pra nos mostrar Adrian já invisível. As cenas em que a personagem começa a perceber isso, são de arrepiar. E são bem simples, como um jogo de câmeras, e uma "brincadeira" com lençóis. A perspectiva de Adrian nos é mostrada pela câmera, que se esconde quando um personagem passa por ela, ou fica espreitando cenas.
Ponto pra equipe de fotografia.
As cores são lavadas, a imagem da Cecília vai ficando cada vez mais opaca, sem cor, sem brilho. Como se as cores nos mostrassem que a personagem está perdendo qualquer resquício de vida dentro de si. Principalmente quando ela se dá conta de que Adrian está mesmo vivo. (Como se nunca pudesse escapar de seu algoz. Lembrem-se do signo de violência doméstica: para mulheres que sofrem abuso, o abusador sempre as encontrará. E aqui não é diferente com Cecília.)
O segundo ato começa frenético e não para até o terceiro. Aqui Cecília começa a enlouquecer pelas provocações de Adrian. Ele a sabota de diversas formas até fazer com que ela perca vínculo com sua irmã, seu melhor amigo e até seu futuro trabalho. E é com Cecília sozinha que Adrian começa as agressões.
Aqui elas são amenizadas porque nós não vemos o agressor, somente a Cecília. (E a atuação da Elizabeth é de tirar o ar. Sinceramente, como não esperar nada menos que brilhante dessa atriz?)
As agressões são fortes mas parece que a personagem está tão habituada que sabe como se defender, o que por si só já é um pouco assustador. (A gente fica imaginando como que essa mulher aprendeu a se defender assim, e já dá margem pra interpretação de que ela apanha de Adrian há muito tempo.)
Porém, por mais que Adrian desacredite do potencial de Cecília, a protagonista nos surpreende com um plano: provar que Adrian está vivo e que de alguma forma conseguiu ficar invisível, mesmo que ele tente dar pistas de que Cecília é louca. (Olha o signo de violência doméstica aqui.)
A personagem descobre que Adrian desenvolveu uma roupa capaz de criar uma ilusão óptica ao usar milhares de câmeras. (Parece também que o traje é uma espécie de armadura, não ficou muito claro.)
Nós já sabemos pela premissa, quando descobrimos que Adrian é milionário, que ele é um entusiasta da tecnologia e que trabalha nesse traje há alguns anos. Não temos muitas informações de como ele funciona, mas isso não é relevante. Porque Adrian é obcecado pela Cecília, e isso é o que o motiva a fazer o que faz. Cecília então consegue esconder o segundo traje que encontrou. (Em um compartimento que foi mostrado na primeira cena, onde ela guardava a mala que usou na fuga.)
Ao procurar a irmã Emily, Cecília precisa de outra testemunha para mostrar o traje e para entregá-lo a polícia. E é no restaurante que vemos uma das cenas mais... mais... Não sei nem como definir o quão surpresa fiquei com a morte de Emily. Adrian, usando o traje, corta a garganta de Emily na frente de Cecília e coloca a faca na mão da protagonista em seguida. Completamente desnorteada, Cecília só percebe o que está acontecendo quando vê a faca em sua mão.
Ela é presa, jogada em uma ala psiquiátrica e dopada.
Ao fazer exames na cadeia, Cecília descobre que está grávida de Adrian. (Mais um mecanismo de sabotagem para mantê-la presa no relacionamento. Signooos.)
Completamente perdida, desacreditada de si mesma, e achando que realmente matou a irmã, Cecília recebe a visita de Tom, seu cunhado. Aqui nós vemos a máscara dele cair, e descobrimos que ele foi manipulado pelo irmão para ameaçar Cecília. (Se existia alguém com dúvidas de que ele realmente estava vivo, elas caem por terra.) Tom diz a Cecília de que Adrian quer que ela tenha o bebê e que volte para o irmão que tudo o que aconteceu até ali seria resolvido.
Cecília nega, e rouba uma caneta de Tom sem que ele veja.
(Aqui eu fiquei confusa, achando que o plano dela seria escrever algo pra alguém, mas ai ela me surpreende de novo.)
Ao tentar suicídio, ameaçando a vida do bebê que Adrian quer, Cecília tem contato próximo com o abusador e consegue feri-lo.
Nós descobrimos que o traje possui um ponto fraco, que ele começa a falhar se você atinge alguma das câmeras. Daqui pra frente temos cenas de ação muito bem elaboradas, até que retornamos para a casa de James, pois Adrian ameaça matar sua filha Sydney.
(Vou passar um pano de leve para o fato da Cecília saber usar muito bem uma arma, por ninguém daquele hospital/cadeia psiquiátrica não terem a pego. Vamos fingir que isso não acontece.)
Quando James tenta salvar sua filha Sydney, e quase morre de tanto apanhar para Adrian, Cecília aparece com um extintor de incêndio para desnorteá-lo e para enxergar sua posição. Aqui ela desfere todos os tiros que existem na arma, até que Adrian cai morto no chão.
E ai... Tcharan! É Tom quem está usando o traje.
(Nessa hora Erik estava do meu lado se achando porque tinha desvendado o filme, e eu desconfiada. Cecília também estava e eu sabia que eu tava certa. E tava mesmo.)
James, que é policial, está com Cecília colhendo informações sobre o que aconteceu e também a informa de que encontraram Adrian preso num cativeiro em sua mansão. James começa a acreditar que Tom forjou a morte do irmão e que planejava tomar tudo o que Adrian tinha. Só que Cecília conhece o modus operandi de seu ex-abusador. Ela sabe que Adrian é capaz de qualquer coisa pra inocentar sua imagem.
(Violentadores de mulheres sempre estão sabotando e desacreditando suas companheiras para que outras pessoas jamais desconfiem. São os homens invisíveis do século vinte e um. Não parecem nada pra quem vê de fora. Não são ameaçadores. Mas batem em mulheres e as matam, eventualmente. Não se engane.)
Cecília volta pra casa de James e Sydney, e é quando a personagem olha o pescoço da garota que ela decide agir. Porque Cecília sabe do que Adrian é capaz. Como se uma força muito maior do que ela a atingisse. (Eu diria que é justiça.)
E nosso terceiro ato se completa com Cecília indo jantar com Adrian, na casa deles. Ela está usando uma escuta para que James colete a confissão de Adrian mas por mais que Cecília implore, ele continua firme dizendo que Cecília está alucinando. (Abuso Psicológico.)
Aqui, nossa arma de Chekhov aparece: Adrian é forçado por alguém usando o traje a cortar sua própria garganta. Cecília sai do banheiro e o encontra agonizando no chão. Liga para a emergência e pede socorro, ao passo que James corre para dentro da casa.
Nós descobrimos que Cecília recuperou o traje que encontrou no segundo ato, e que forjou o suicídio de Adrian.
(Não vou mentir que foi um deleite ver Cecília apreciar Adrian morrer agonizando. Ok? Foi bom mesmo.)
Nesta cena final Cecília sobe as escadas até a saída da casa, está de cabelos soltos e batom vermelho (cores saturadas aqui) e finalmente suspira.
Está liberta.
(Minha interpretação aqui foi de que Cecília, vítima de violência doméstica, precisa matar seu abusador dentro da sua mente para se livrar dele. Adrian é o abusador que não apenas deixa marcas na pele, ele destrói o psicológico de Cecília. E pra se ver livre, Cecília precisa pertencer a si mesma, tomar as próprias decisões. Por isso a morte de Adrian, no filme, é necessária para que ela se liberte. Filmaço!)
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